Quando chegamos a algum mercado ou loja especializada em computadores
e nos deparamos com valores inferiores aos R$ 2 mil, fica difícil
acreditar que cerca de 15 anos antes era impossível comprar uma máquina
com configurações aceitáveis por menos do dobro deste valor.
Para sermos mais exatos, os R$ 4 mil de 1996 equivalem a R$ 12.691 de
hoje, conforme atualização monetária com base na taxa inflacionária
(índice INPC). Ou seja, a redução no valor não foi de apenas 50%, mas de
85%. Mas por que será que os computadores custavam tanto se não
possuíam a mesma potência de hoje?
A onda dos valores
A tecnologia trabalha em ciclos muito bem definidos. Aparelhos que
custam muito têm seus valores reduzidos gradativamente até que cheguem
aos preços mais populares, então surgem novas tecnologias, fazendo com
que a curva dos preços volte a subir e o ciclo se repita. Isso pode ser
percebido com televisores e suas diferentes tecnologias: CRT, LCD,
Plasma, LED e os novos modelos 3D que ainda estão com preços altíssimos.
Em se tratando de informática, não é diferente. Os componentes de
hardware sempre são lançados com valores altos que, com o passar do
tempo, são reduzidos. Um dos fatores que mais contribui para a redução
nos preços é a evolução tecnológica, pois quando são lançados novos
produtos, é necessário reduzir os valores dos mais antigos para que eles
não fiquem presos nas fábricas.
Fazendo uma análise bastante rústica, pode-se pensar da seguinte
forma: o que aconteceria com os novos eletrônicos, se os antigos não
tivessem seus preços reduzidos? Seria necessário vender cada geração com
preços mais elevados, resultando em valores astronômicos para peças
simples dos computadores.
Para entender melhor como funciona o esquema de ciclo de vida dos computadores e outros eletrônicos, confira
este artigo completo que o Baixaki preparou no final de 2010.
Os primeiros computadores pessoais
Até o começo da década de 1970, os computadores eram limitados aos
bancos e outras empresas que podiam gastar milhões de dólares para
acelerar o processo de cálculo de algumas tarefas. Estas máquinas eram
conhecidas como
mainframes e não faziam muito mais do que calculadoras poderiam fazer (logicamente, com um fluxo muito mais elevado).
A história continuou sendo escrita da mesma forma até meados de 1971,
quando o computador Kenbak-1 foi lançado. Segundo o Computer History
Museum, apenas 40 exemplares do computador foram produzidos pela Kenbak
Corporation.
Os computadores Kenbak-1 possuíam 256 bytes de memória RAM, não
apresentando processador. No lugar dele, a máquina trabalhava com ciclos
de
instrução de máquina de um microssegundo, o que seria
equivalente a um processador de 1 MHz. Ele chegou às lojas por 750
dólares, valor que hoje seria equivalente a 4.098 dólares americanos.
Apple e a popularização dos computadores
Ainda na década de 1970, Steve Jobs e Steve Wozniak
fundaram a Apple
e lançaram o Apple I, que em 76 seria responsável pela entrada da
empresa no mercado de tecnologia mundial. O computador chegou às lojas
custando 666 dólares (equivalente a 2.590 dólares atuais), o que gerou
muitos comentários negativos por parte de religiosos norte-americanos.
Para resolver este impasse, Steve Jobs deu declarações de que
aumentaria o preço dos computadores para 777 dólares, assim as acusações
cessariam. O Apple I foi o primeiro aparelho a ser lançado
completamente montado, sendo que só era necessário acrescentar um
teclado e um monitor para que ele pudesse ser utilizado.
No ano seguinte surgiu o Apple II, já com processador com clock de 1
MHz e 4 KB de memória RAM. O sucesso de vendas impulsionou outras
empresas a criarem computadores pessoais, o que foi de extrema
importância para a popularização desses aparelhos. Foi nessa época que
as máquinas passaram a desempenhar funções mais complexas, como a
geração de gráficos coloridos.
Desde o lançamento do primeiro Apple até a última geração dos iMacs,
35 anos se passaram e muito da computação evoluiu. De volta às análises
financeiras: a máquina com processador de 1 MHz custava 666 dólares sem
monitor, hoje um iMac com monitor integrado pode ser encontrado por
cerca de 1.199 dólares.
Corrigindo os valores com base na inflação norte-americana, os 666
dólares se transformam em 2.590 dólares. Ou seja, um computador atual,
com processador de 3 GHz e 4 GB de memória custa menos da metade do que
custaria um Apple I.
Para que fosse possível se obter a potência de processamento de um
computador iMac, seria necessário somar o poder de 3 mil computadores
trabalhando simultaneamente para uma única tarefa. Logicamente isso não
seria viável, mas vale lembrar que estamos utilizando estes números em
caráter ilustrativo.
1 MB de RAM já custou o mesmo que um notebook
Há 25 anos, possuir 1 MB de
memória RAM
instalado no computador era mais do que suficiente para qualquer um.
Mas não era qualquer usuário que poderia comprar “tanta” memória, visto
que cada pente de 512 KB não saía por menos de 400 dólares. Um megabyte
chegou a custar 859 dólares em 1985 (valor corrigido: 1.766 dólares).
Hoje, 1 MB de memória custa 1 centavo de dólar e não serve para quase
nada. Um pente de memória de 1 GB pode ser encontrado por cerca de 13
dólares. Portanto, montar um computador com 4 GB de memória (média para
computadores pessoais) custa menos de 100 dólares, cerca de 10% do que
seria gasto com 1 MB há 25 anos.
Como acontece com qualquer produto, o ciclo de vida das memórias RAM é
encerrado com o lançamento de memórias mais potentes. Hoje, os pentes
que custam mais são os de memória Flash, que devem ter os preços
reduzidos de acordo com o tempo. É provável que em 20 anos, outros tipos
de memória sejam lançados e os atuais padrões fiquem na história, assim
como aconteceu com pentes DIMM.
Processadores já trabalharam com megahertz
Quando os
processadores
Intel80386 (os populares 386) chegaram ao mercado em 1985, eles
possuíam 275 mil transistores ocupando cerca de 1,5 micrômetros.
Custando 299 dólares (valor corrigido: 614 dólares), continuaram a ser
vendidos até 1994, ano em que a nova arquitetura Pentium chegou aos
computadores pessoais.
Hoje, o processador Intel Core i3 (versão mais modesta da nova
família de processadores da Intel) oferece aos seus usuários 382 milhões
de transistores em uma arquitetura de apenas 32 nanômetros. Enquanto o
386 oferecia clocks de 10 a 40 MHz, os atuais i3 podem chegar a 3 GHz,
até 250 vezes mais rápidos.
Podendo ser encontrados por valores que permeiam os 315 dólares,
seria possível dizer que os processadores tiveram todo esse aumento de
potência sendo acrescidos apenas 15 dólares em seu preço. Isso já seria
bom, mas se levarmos em conta os valores corrigidos do dólar, podemos
afirmar que o valor do processador foi reduzido em 300 dólares.
Armazenar é preciso
Não adianta ter computadores se não existir um disco rígido para
armazenar os dados. Nas máquinas atuais não é possível imaginar menos de
300 GB, sendo que a média dos HDs é de 500 GB. Imaginando que um disco
com essa capacidade custa cerca de 35 dólares, cada gigabyte sai por
volta de 7 centavos de dólar.
Em 1980, o valor pelo mesmo gigabyte era de 193 mil dólares.
Considerando o disco rígido da Morrow Designs de 26 MB, que custava
cerca de 5 mil dólares, seriam necessários 38 deles para que 1 GB de
arquivos pudesse ser armazenado por completo.
Já imaginou o quanto você gastaria para que fosse possível instalar
todos os seus programas favoritos ou baixar todas as músicas que possui
no seu HD atual? O valor fica ainda mais absurdo se atualizarmos os
valores de 1980 para a cotação atual do dólar: neste caso, 1 GB de HD
custaria 518 mil dólares.
Um carro ou um computador?
Há alguns anos esta pergunta era feita para pessoas que tinham algum
dinheiro guardado, pois dificilmente elas poderiam comprar os dois ao
mesmo tempo. Exatamente, cerca de 40 anos atrás não existiam
computadores populares e todos eles custavam mais do qualquer um imagina
pagar em máquinas tão simples.
Em 1970, um carro popular podia ser comprado por cerca de 3 mil
dólares (17 mil dólares atuais). Com a mesma quantia, seria possível
comprar um computador e meio, com as configurações mais básicas da
época. Atualmente, computadores com configurações consideradas
aceitáveis custam menos de 1 mil dólares, enquanto carros populares
custam os mesmos 17 mil.
Comparando em números mais brutos, pode-se dizer que, enquanto 40
anos atrás era possível trocar um carro por um computador e meio (ou um
computador mais potente), hoje com o preço de um carro popular é
possível adquirir 15 computadores capazes de rodar os principais
aplicativos do mercado.
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Você já havia imaginado que os computadores podiam chegar a custar
tanto quanto um carro? Deixe um comentário para contar ao Baixaki se
você pagaria por um computador com os preços que eram cobrados na década
de 1980.